Nos dias atuais é praticamente impossível resistir a Publicidade. Ela se manifesta de diversas formas em nossas vidas.
A sociedade de consumo é conseqüência do início da industrialização. As pessoas deixaram de produzir por subsistência e passaram a trabalhar na produção dessas empresas, desta forma começaram a consumir produtos aos quais elas mesmas produziam. Houve assim, o início das estratégias de incentivo ao consumo, sendo a publicidade essencial. As pessoas começaram a confundir necessidade com desejo por determinada marca, pois a principal função da Publicidade é vender sonhos. Desta forma temos um ciclo no qual trabalhamos para ganhar dinheiro, para consumir e novamente trabalhar para produzi-lo e consumi-lo, se tornando assim escravos do sistema.
Nesta mesma fase muitas pessoas deixaram seu local de origem a procura de trabalho e promessa de uma vida mais digna, pura ilusão do sistema capitalista. O processo de produção busca sempre o lucro, assim expõe os trabalhadores a uma situação de miséria, desemprego e salários baixos. É certo que o trabalho dignifica o ser humano, porém devemos explorar as verdadeiras habilidades de competências do homem, cada um tem sua cultura e capacidade intelectual que melhor se adéquam a certas funções.
Na psicologia humana vemos que mesmo na fase adulta continuamos numa situação de narcisismo primário vivido na infância quando dependemos de nossos pais. Na fase adulta seguimos essa tendência dependendo dos produtos, criando uma sensação de onipotência e impotência, recriada pela sociedade capitalista de consumo e pela publicidade, onipotência essa, que se acaba na própria compra de um produto, pois sentimos no mesmo instante a necessidade de adquirir um novo produto.
As peças publicitárias mostram ao consumidor o que comprar, por que comprar e como se deve desejar o que quer. Assim como uma criança o consumidor não sabe que é dependente. Um exemplo disso são os jovens e as bandas coloridas, todos eles são iguais, mas se acham diferentes, suas roupas compõem sua personalidade, eles se sentem únicos, se identificam com os produtos e acham que tudo foi feito especialmente para eles, porém fazem parte da massa, e são manipulados pelo sistema.
As pessoas projetam suas necessidades nas mercadorias, a sociedade capitalista de consumo assume o papel de mãe, com todos os cuidados maternais faz com que cada um se sinta como filho único, mesmo o sistema sendo mãe de todos, apenas satisfazendo as necessidades do consumidor.
Realmente somos como Narciso, que olhou sua imagem na água, se encantou e morreu afogado, só que olhamos mercadorias e as adquirimos, criando assim um ciclo vicioso onde nunca estamos satisfeitos. Mas assim como Narciso estamos nos afogando e nos matando, pois somos apenas objetos facilmente manipulados, perdemos nossa consciência crítica, roubam nossa identidade e nos reduzem a consumidor. Outro exemplo que temos na mitologia grega e a história de Dédalo e seu filho Ícaro. Dédalo na tentativa de fugir do exílio confeccionou asas de cera para ele e seu filho Ícaro, porém Ícaro ficou impressionado com o sol e se aproximou demais dele, desobedecendo às ordens de seu pai suas asas derreteram, Ícaro caiu no mar e morreu. Na mesma posição de Ícaro se encontra os seres humanos, sua ambição pelos mais diversos produtos é tão grande que ele acaba se afogando na escravidão e em dívidas, facilidade de pagamento é muito grande e a publicidade dos produtos os atraem de diversas maneiras.
Na ideologia neoliberal, que passou a triunfar após a implantação do sistema capitalista, o consumidor deve se identificar com a mercadoria e a capacidade humana de imaginar outra vida social é esvaziada, a única realidade capaz de existir é a do capitalismo. É como se não existisse nenhuma alternativa, a sensação de liberdade que temos é pura ilusão, pois estamos totalmente presos a um sistema que não nos dá um direito de escolha.
Passamos a não ser mais responsáveis pela realidade e sim dependentes dela. Antes o mundo social era controlado pelas divindades, após o Iluminismo surgiu a idéia de que o homem é o criador do mundo e responsável por essas mudanças sociais, desta forma surgiu o neoliberalismo, que mostrava uma ótica mercantil , formando a sociedade capitalista de consumo contemporânea, onde se usa as pessoas para adquirir lucro. As pessoas passaram a se tornar produtos a venda e os produtos objetos de desejo e a forma predominante de comunicação social do neoliberalismo é a publicidade.
Esse novo sistema aumentou a competitividade entre os seres humanos, trazendo à tona a chamada “Lei da Selva”, aonde há uma regressão, pois os animais são movidos pelos seus instintos e o homem é um ser racional capaz de fazer mais por si mesmo. Começou-se uma corrida por status, dinheiro, reconhecimento e busca por conhecimento, no intuito de ter melhores condições de vida. É necessário destacar a diferença que se há entre conhecimento e sabedoria, conhecimento você se adquire em qualquer curso, agora sabedoria é uma espécie de dom, pois poucos são sábios em suas atitudes.
Os homens passaram a se tornar consumidores protegidos por este sistema, o neoliberalismo esvazia toda noção política da cidadania, pois as empresas cidadãs substituem os indivíduos cidadãos, dando espaço para as empresas com responsabilidade social, para que as admiremos por sua atitude, sem notarmos que tudo isso é mais uma estratégia para se adquirir rentabilidade, afinal, se não preservarmos os recursos naturais de nosso planeta, a chamada “sustentabilidade”, haverá escassez de matéria-prima, conseqüentemente irá faltar materiais nas produções, o valor de um produto em falta no mercado será muito elevado e prejudicará o desempenho das empresas e no auto custo do processo produtivo, gerando assim prejuízos.
As mercadorias são espelhos que refletem nossa personalidade, alguns produtos passam a impressão de requinte, outros de descontração, formando um mecanismo artificial de diferenciação, criando grupos sociais, que vivem cada qual em seu mundo artificial criado pelos produtos que definem suas principais características artificiais, formando uma fragmentação de grupos orientada pela sua classe social.
O Neoliberalismo transformou a ação política em espetáculo. Os eleitores passaram a ser consumidores e os candidatos/partidos se transformaram em empresas, aos quais os eleitores/consumidores precisam se identificar para votar. Os políticos prometem resolver seus problemas, mas nunca citam que deve haver uma transformação social para que isso ocorra, passamos a ser verdadeiros escravos do sistema e não ter um direito de escolha graças a este sistema. Somente com o desenvolvimento de uma consciência crítica é que teremos a ruptura dessas identidades sociais com base no consumo.
O MST é um movimento em que a indústria cultura vincula a ele imagens negativas, mas é um dos únicos movimentos que questiona o neoliberalismo e defende a afirmação de identidade social com base no processo de produção. Porém nunca ouvimos falar dos interesses dos membros deste partido e sua ideologia, na mídia a imagem associada ao MST é desordem.
A eleição do presidente Lula do partido dos trabalhadores, quebrou de certa forma esse paradigma, dando espaço à classe trabalhadora, já que o presidente vem da classe operária. Porém seu governo se rendeu ao sistema capitalista de consumo e se tornou num governo compatível com os que tivemos anteriormente pelos partidos de direita, dominado pelos burgueses.
A classe trabalhadora deve se organizar e criar uma filosofia que quebrem esses paradigmas e os libertem desse sistema escravagista.
Com o avanço científico nas produções vão surgindo novas oportunidades para os profissionais da área de engenharia. Alguns jovens trabalhadores vêem nessa área uma oportunidade de crescimento. Porém conforme a sociedade evolui economicamente, evolui também o sistema, pois como falta-lhes conhecimento da situação real em que vivem, acabam por se tornar manipulados da mesma forma e passam a fazer parte dessa classe burguesa que predomina sobre os mais fracos.
Os meios de comunicação de massa foram transformados em indústria cultural, transformando a cultura em mercadoria e a ligando ao neoliberalismo. Há um monopólio da informação e do acesso a opinião pública, transformando a massa em consumidor de arte e informação. Desta forma, foi esvaziada a cultura popular (cultura regional), substituindo-a pela cultura de massa (cultura imposta pelos meios de comunicação, ex: estilos musicais).A cultura deixa de ser artesanal e passa a ser industrial/tecnológica. Há uma perca do valor cultural, pois não sabemos mais o que é real ou o que é fabricado.Surgem grandes empresas que monopolizam a informação, um exemplo é as Organizações Globo, que atua em diversos segmentos da comunicação. A força da Rede Globo no Brasil se deu principalmente na época da ditadura militar, aonde ela se aproveitou da situação em que o país se encontrava para buscar seu crescimento ao lado de militares ditadores e manipulação da informação, tirando do povo a força de expressão e direito de escolha.
Você já parou para pensar no que fazemos em nosso tempo livre? Nos nossos dias de folga aproveitamos para fazer compras, ir ao cinema, ou até mesmo ficar em casa assistindo televisão. No nosso tempo livre gastamos com a indústria, seja ela cultural ou não. Somos totalmente dominados pelo sistema capitalista de consumo, acabamos por não ter muitas opções a não ser aquelas que o próprio sistema nos oferece. Desde quando shopping é opção de lazer? Certamente uma opção de lazer para gastarmos o que ganhamos e continuar alimentando o ciclo produção, dinheiro, compras e assim por diante.
Até o conhecimento se tornou produto das universidades, os estudantes passaram a se tornar consumidores e os professores passaram a ter o comportamento das indústrias culturais para entreter seu público (estudantes), as universidades devem vir em embalagem compostas de um design moderno com pessoas bonitas e joviais, valorizando a imagem e sua embalagem, que é a 2° pele do produto.
Além disso, são poucas pessoas que buscam conhecimento na área que trabalhariam por prazer, se busca conhecimento apenas nas áreas que seriam interessante para a empresa em que o profissional atua, gerando um aumento no número de profissionais descontentes e frustrados.O corpo também passou a ser matéria prima a ser transformada, buscamos o corpo perfeito mostrados nas peças publicitárias. E os acessórios e roupas de nosso corpo significam a embalagem. A academia se tornou a fábrica do corpo perfeito, caso não tenhamos o resultado desejado nos punimos com regime, cirurgias plásticas e em alguns casos viramos pessoas com distúrbios alimentares, como a anorexia.
As fábricas, escolas, quartéis e prisões, também vigiam os que não agem conforme o sistema, aplicando-lhes punições. Aprendemos a controlar nossas emoções, essa alienação nos faz ter controle sobre nossos sentimentos, principalmente no ambiente de trabalho, mesmo estando descontentes vamos ter o comportamento que a sociedade nos impõe. Somos obrigados a passar a impressão de jovialidade, alegria, sentimentos esses que acompanham o corpo perfeito.
O humano visto como objeto favorece o uso de drogas, para se obter o comportamento perfeito imposto pela sociedade. Ele se sente frustrado por não conseguir ser o modelo de perfeição que a sociedade impõe. As drogas afetam todas as classes sociais, independente de seres burgueses ou não.
Vejamos um fato curioso, segundo dados da FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor), as datas comemorativas como Dia dos Namorados, Natal entre outras, são as datas em que mais jovens são presos acusados de furto. As pessoas que não têm condições financeiras acabam se rendendo aos apelos das propagandas e se sentem pressionados por esta sociedade a também presentear as pessoas que ama, e estando num beco sem saída acabam por cometer delitos, e em algumas situações se vêm atrás das grades. Concluímos então que o aumento da marginalidade pode se dar a este fato, A criança carente cresce vendo esse mundo em que desejaria viver nas propagandas publicitárias, deseja o produto e a alternativa mais viável para conseguir o que deseja é o crime, se sentindo revoltado com a situação em que vive acaba roubando, matando e entrando no mundo da marginalidade.
A outra grande parcela de pessoas menos favorecidas, acabam se endividando para satisfazer esse desejo de se sentir incluso na sociedade de consumo, e as opções são muitas: empréstimos, cartões de crédito, financiamentos, etc.
O publicitário é mostrado como algo glamouroso, profissionais criativos e bem sucedidos financeiramente. A atividade dos publicitários está organicamente ligada ao sistema capitalista, na faculdade adquirimos conhecimentos científicos (psicologia, sociologia, antropologia, estatística e etc) e tecnológicos (recursos visuais). Usamos a racionalidade para fins de dominação, produzem mitos, tenta transformar em suas peças o consumidor em super-herói, fantasiam a realidade, transforma tudo em imagens. Creio que seja responsabilidade de cada um os danos que causam a sociedade, podemos manipular tanto para o bem quanto para o mal.
Os movimentos que lutam contra a globalização neoliberal acabam encontrando grandes dificuldades, pois sabem contra quem lutam, mas não sabem a favor de quem lutam. Qualquer movimento que acabe por questionar o neoliberalismo acaba por virar propaganda deste. Um exemplo claro disso foi o movimento hippie, que acabou virando moda pela indústria cultural e após esse movimento a imagem do jovem nunca mais foi a mesma. Além disso, abriu os olhos do sistema para ver um grande consumidor ainda não descoberto, os jovens. O movimento hippie acabou se tornando um grande espetáculo da indústria cultural, com suas bandas, manifestações, o sexo livre, o uso de drogas, etc.
A coisificação dos seres humanos é o componente essencial da hegemonia da burguesia na sociedade contemporânea.
Se deve desenvolver uma visão de mundo que defenda as necessidades dos trabalhadores, que acabe com o controle que a sociedade tem sobre seu corpo e mente, desenvolvendo uma consciência crítica sobre o papel da publicidade, sendo fundamental para a filosofia de praxis. O desenvolvimento de uma consciência crítica depende de uma compreensão das características de atuação dos publicitários.
Há uma necessidade de organização da sociedade e informação a respeito do sistema atual em que vivemos, devemos criar alternativas para o bem estar do ser humano, para que todos tenhamos uma vida digna com base nas condições necessárias para nossa sobrevivência. Devemos ter direito de escolha, liberdade verdadeira. Religião e Política se discutem sim, para que não haja a manipulação do ser humano, mas sempre devemos respeitar as diferenças culturais. As vezes me questiono se escolhi a profissão correta, pois não quero enganar as pessoas, e vejo que sim, devo ter consciência e vender aquilo que compraria e de alguma forma contribuir para o bem da sociedade, ser um profissional completo com um pensamento inovador, que busque não só beneficiar a sociedade burguesa como também todas as classes de acordo com as verdadeiras necessidades visando melhores condições sociais e ambientais, agora como fazer isso? Vou descobrir ao decorrer do tempo, buscando a verdade.
Referências Bibliográficas:
Publicidade, é possível escapar? - Autor: Cláudio Novaes Pinto Coelho
Filosofando - Introdução à Filosofia - Autor: Mária Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins
